segunda-feira, 20 de maio de 2019

A Educação e o Brasil


Desejo aqui traçar uma linha do tempo sobre algo que partiu deste governo e, a princípio, me pareceu promissor, mas foi abafado pela intempestividade do Ministro da Educação Abraham Weintraub mandatário da pasta. Após muita reflexão, vejo que foi um grande erro do Ministro e do governo Bolsonaro sustentar essa luta e vou explicar o porquê.
 Primeiro a intempestividade.
Aos poucos aprender-se-á que querelas e discussões rasas não são tarefas de governo, está demorando, mas deve aprender. Querelas no seio do Estado sempre ganha proporções gigantescas. O Ministro da Educação resolveu dizer que cortaria recursos de universidades que promoviam balbúrdia. Tipo UnB, UFBA e UFF, essas gigantes. Nada mais, nada menos! Impossibilitado de fazer perseguição como prometido, disse que faria com todas universidades. Desta vez, justificou que a educação básica é mais importante do que a superior, mas sem dizer exatamente como fará essa importância prevalescer (importante não dizer). O problema é que a educação básica está a cargo dos estados e municípios, portanto demanda no mínimo uma revisão das relações intergovernamentais, ou seria apenas mandar mais dinheiro? Tudo isso não vi na imprensa, a conta de twitter do Sr. Ministro foi minha principal fonte de consulta.
Ocorre que a querela se estendeu até a divulgação governamental de que o corte não era corte, era contingenciamento (reversível portanto) e que isso não tinha relação com balbúrdia, tampouco com valorização do ensino básico (como se rivalizassem um ao outro), mas com obediência ao Ministério da Economia. Fazendo posterior exercício de tecnificação de seus anteriores posicionamentos ideológicos (como a retórica do seu 2+2=4), tentou mostrar que 30% é na verdade 3,5%, mas não colou porque, para decisão universitária, os recursos que importam são os cuja discricionariedade é facultada ao gestor, no caso reitores. Sobre estes recursos, o contingenciamento gira sim em torno de 30%.
Misteriosamente, as redes sociais foram invadidas por imagens de espaços depreciativos, gente usando drogas, e muita, muita gente pelada. Quase um fetichismo coletivo. O recente top trend mundial do erro do nome do presidente “#BolDonaroNossoPresidente”, com D ao invés de S (letras vizinhas do teclado), nos dá pistas de como os robôs estão agindo nesses eventos.
Uma grande manifestação em favor da Educação ocorreu na paralização do dia 16/05/2019 Brasil afora, como sempre com caroneiros pedindo pautas diferentes da pauta principal, é a argumentação contrária. Apesar de eu mesmo não gostar dessas caronas, até onde sei, sempre será assim. Isso não invalida o evento, pois para mim, essa luta é uma demanda legítima pelos fatos que narro.
Mas ao invés de reajustar os ponteiros, como deveria – e fez todos os governos anteriores  , o governo parece apostar na já convocada manifestação do dia 26 de maio (do #BolDonaroNossoPresidente), e outra da oposição, convocada para o dia 30 de maio. Ok. Aqui estamos, a beira de um colapso (não sei se estou sendo muito trágico).
E o que seria então promissor?
Bem, anteriormente a essa atravessada do Ministro da Educação, a discussão sobre previdência crescia e entendimentos estavam começando a acontecer. É tema deveras importante, pois reforma é fundamental para encontrarmos não apenas economia do Estado, mas talvez principalmente justiça social (o que ainda não está claro para mim). Alguns bons posicionamentos já foram colocados e eu mesmo vislumbrei possibilidades tremendas, apesar de ainda ter dúvidas.
Concomitante, havia sido editado uma MP da Liberdade Econômica. Não sei quem foi a assessoria, mas uma redação de lei revolucionária, em termos de Brasil, por sua profundidade e simplicidade em favor da criação de emprego e renda, favorecendo empreendimentos, empreendedorismo, negócios digitais, startups. A MP Remove diversos entraves públicos para criação de novos negócios. De tão inovadora, merecia uma avaliação de especialistas e discussões que atingisse a percepção da população em geral.
Essa lei deveria ser discutida inclusive pelo setor empresarial, pois como sabemos, o setor ainda está reticente em investir, pois demostrar ter ainda ligeira desconfiança deste governo, tanto é assim que os principais veículos de comunicação destinado ao empresariado, em regra, ainda contesta diversas decisões de governo – basta acompanhar os editoriais do Valor Econômico, Gazeta Mercantil, Isto é Dinheiro entre outros. Veja que medo de investir repercute no nível de investimento real de uma nação, uma noção elementar de economia. Daí sustentar pautas de luta, como esse governo está fazendo, enfrequecem a economia, que tanto diz defender. Aliás, me pergunto como o empresariado local se sente quando vê o Presidente oferencendo o Brasil para ser explorado pelos israelenses e norte-americanos? Sem qualquer ideologia (#ironia).
Voltando! Ao invés de comprar briga com setores da educação seria muito mais saudável ampliar a discussão da MP da Liberdade Econômica e lançar luz as discussões já iniciadas sobre reforma tributária, e fortalecer as discussões sobre a reforma da previdência. Esses esclarecimentos dariam novo fôlego ao governo.
Mas e a educação? Bem ela precisa realmente de reforma, mas precisa de um plano. Já cobrei insistentemente do Ministro da Educação e do Presidente pela minha conta do twitter. Tenho até uma ideia de modelo de educação. Mas não é hora de expor, pois não há diálogo quando se está sob ataque.
Enfim, não tenho bola de cristal para dizer o que ocorrerá, mas pelos motivos expostos, estou convicto de que o governo perdeu um grande e único momento, cuja reversão custará caro.
O governo Bolsonaro ainda não perdeu os bonsonaristas de bom senso. Mas pode. Em que me baseio essa afirmação? Simples! Entro no perfil de Facebook de pessoas que considero de bom senso e que apoiam o governo, mas não estão se manifestando acerca dessa contenda da educação. O silêncio é o primeiro sinal de que os bons não concordarão com tudo por ser de seu político de estimação. Para os de bom senso, tudo tem limite. Se continuar errando, a manifestação dos apoiadores tomará sentido contrário.
Por enquanto, esperaremos a última semana de maio.

terça-feira, 4 de julho de 2017

A culpa é do sistema capitalista?

Um breve relato que fiz na minha página profissional sobre o sistema capitalista. A origem deste texto foi em uma conversa com um querido professor de economia, do qual tenho muito apreço e felicidade de compartilhar pensamentos. 

Há um problema fundamental em atribuir as mazelas de uma sociedade a um ente mítico denominado “sistema capitalista”. Essa argumentação nos faz esquecer de que nós somos a principal engrenagem, portanto, a parte principal do problema. Por analogia, seria como se atribuísse ao veículo - e não ao condutor - a culpa pela imprevidência daquele que causou um acidente de trânsito. 

Somos os principais causadores dos problemas do sistema capitalista, e precisamos encontrar nossas soluções. Nos países de melhor situação econômica ou social, geralmente esses arranjos foram encontrados, ou as mazelas foram minoradas. Na verdade, é preciso ter ciência de que o sistema capitalista sobrevive, apesar da clara exploração de muitos, pelo simples fato de se basear no auto-interesse generalizado, e o auto-interesse permeia todas as classes sociais, seja proletariado seja detentora de capital. E isso acontece porque todas as classes da sociedade contêm em suas estruturas, na maioria, indivíduos egoístas e, portanto, não altruístas. 

O economista evolucionário Geoffrey Hodgson advoga, não há um sistema capitalista, há diversas formas de manifestação capitalista, dentro da complexidade socioeconômica das nas localidades em um processo evolutivo. Ou como dita autores de Capital Social, como Putnam, que sociedades com elevado grau de capital social têm condições de deslocar as decisões políticas de "elites" para a sociedade civil organizada. Na mesma linha o economista novo institucionalista Douglass North, em seu estudo histórico-econômico das sociedades, e que conclui (entre outras conclusões) que as regras formais e informais, os aspectos culturais são preponderantes para determinação do produto econômico e social (porque não ambiental) das sociedades.


terça-feira, 20 de junho de 2017

Capitalismo e Moralidade

Hoje reproduzo a postagem que fiz em minha página de Facebook pessoal faz um ano atrás. Tenho defendido sistematicamente que não se consolidou nenhum caminho que suplantasse o atual sistema econômico capitalista, mas por outro lado, tenho defendido a importância da inovação para mitigação de problemas sociais e ambientais no seio do capitalismo. Costumo dizer que sou "evolucionista", isto é, creio que mudanças paulatinas ou mesmo abruptas são, de certa forma, capazes de mudar um mundo para melhor. Pode haver pouco de inocência, mas há também de evidências. Para evoluções ocorrerem de forma consistente - socialmente e ambientalmente -, mudanças paradigmáticas dos indivíduos são mais relevantes que uma mudança impositiva no sistema econômico. Indivíduos devem trilhar cada vez menos no auto-interesse para ser cada vez mais altruístas, muito embora, no que digo abaixo mostra que, algumas vezes, o sistema capitalista per si já é capaz de promover mudanças consideráveis. 
Abraços.

REPRODUÇÃO DO TEXTO

Nunca gostei de endeusar o capitalismo como a solução da sociedade, mesmo porque ela já demostrou falhas gritantes, cuja correção não pode endógena, mas realizada por outros meios, como o Estado. Ainda sim, vejo o sistema de preços e alocação de recursos extremamente importante em muitos casos, motivo pela qual a liberdade (incluindo a livre iniciativa privada) deve ser desejável, e a intervenção “moralista” em um sistema econômico amoral pode ser desastroso, em alguns casos. Dois exemplos.


Na Índia os dalits são representantes da casta mais baixa da sociedade, os intocáveis de tão impuros que são. Um sistema social cruel. Todavia, com a emigração de indianos para a Inglaterra e o posterior retorno, gerou-se inúmeros empreendedores dalits que romperam a barreira social indiana podendo ter acesso àquilo que nunca teria se não tivesse sido por meio do empreendedorismo. Adivinha quem eles contrataram em suas empresas? Dalits, é claro. E para exercer funções que dalits jamais fariam no sistema social indiano tradicional, melhor do que qualquer lei moralista para resolver problemas de castas.

E as conquistas femininas? Algumas podemos apontar ao longo da história da luta contra o machismo. Entre elas uma conquista se destaca: a pílula anticoncepcional, ou o direito de escolha sobre a gravidez. Cientistas - provavelmente machistas - desenvolveram-na em empresas provavelmente gerenciadas por homens para trazer benefícios às mulheres. Imagina se ao invés da busca por lucro, os cientistas abrissem mão de suas inovações porque libertaria as mulheres de seus domínios e tornar suas vidas masculinas mais difíceis? Como a amoralidade capitalista foi importante para conquistas femininas, não?

Apenas ponho esta questão porque algumas visões de esquerda sempre engendram um tipo de polarização, e busca-se penalizar aquilo que funciona em nome do social, sem se dar conta de que ser um Estado quer expandir seus braços sociais necessariamente precisa garantir as fontes de receita, que são impostos gerados pelo setor produtivo.
Reforço: o Estado precisa regular a atividade econômica para não causar danos à sociedade, mas o que funciona bem é desejável que assim permaneça, pois a moralidade exógena pode atrapalhar mais de ajudar.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Empreendedorismo, competitividade e justiça social

Esse texto é para todos aqueles que querem discutir a importância do sistema econômico atual para o desenvolvimento social, bem como ambiental. Em geral, os estudantes de negócios, como os de Administração, Ciências Contábeis e Economia deveriam compreender o que vou dizer sem problemas, pois é relativamente introdutório. Mesmo assim, ficaria lisonjeado em saber que leram. Darei, no entanto, uma pegada de entendimento político ao texto. Logo, parte dele destina-se àqueles que não focam seus estudos acadêmicos e profissionais em ambientes de negócios, e tentarei demostrar a necessidade de valorização do ambiente empreendedor e competitivo de uma nação.

Minha  inspiração foi a professora Dra. Rose Mary Almeida Lopes, a qual tive o prazer de conhecer. Ela é presidente da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (ANEGEPE), que trouxe informações sobre empreendedorismo, inovação e competitividade mundo afora. Os dados apresentados pela professora, no entanto, são alarmantes. Nossos indicadores de competitividade e de empreendedorismo, que move uma sociedade em direção à prosperidade são, infelizmente, pífios.

A pergunta que deveria ser trivial, todavia, vejo ainda necessário ser respondida é: Por que tanta importância atribuída à competitividade e ao empreendedorismo? É uma pergunta fundamental que, ao que parece, o Brasil está longe de compreender. Então vejamos... Na sociedade capitalista (que somos, gostem ou não), a produção, distribuição e consumo de bens e serviços são governadas pelas necessidades e desejos dos indivíduos, cujos valores são quantificados monetariamente e teorias econômicas explicam o fenômeno. Um pressuposto fundamental, entretanto, é filosófico: indivíduos têm a liberdade de decidir seu trabalho, profissão, fé, o que consumir, entre outros. Isto é, liberdade é elemento primordial na sociedade capitalista, pelo menos na teoria.

Entre as liberdades de que falo, uma é importante nas sociedade capitalistas, a de empreender seu próprio negócio. Aqueles que têm desejo de se lançar ao mercado com suas ideias, têm a liberdade de constituir seu empreendimento, assumem seus riscos e buscam meios de ser prósperos. Diferente daqueles que, por exemplo, desejam ser funcionários públicos. Esses indivíduos - propensos a assumir riscos em troca de maiores retornos - são aqueles que chamamos empreendedores. Caso consigam atingir seus objetivos, obterão lucros, prosperarão, enriquecerão pelo acúmulo de capital, mas também gerarão emprego e renda para aqueles outros que desejarão ser seus empregados, os que optam pela estabilidade produzida pela legislação trabalhista, como este professor que vos fala. Ninguém é melhor ou pior, são escolhas em um mundo livre, claro, dentro de restrições sociais que não devem ser olvidadas. Mas o fato é que empreendedores são capazes de trazer novos conhecimentos ao mercado, ou inovar em relação àquilo que está estabelecido. São capazes de realizar mudanças e corrigir vícios.

A competitividade, por sua vez, é entendida como as condições nas quais empresas concorrentes se enfrentam para ter a preferência dos clientes. Condições altamente competitivas exigem das empresas eficiência em seus processos produtivos ou em suas práticas gerenciais, por um lado; por outro, deve-se observar com atenção os sinais do mercado para se ajustar às demandas presentes e futuras. Setores altamente competitivos podem ser entendidos como aqueles cujas condições ambientais são turbulentas e a sobrevivência demanda novas soluções (ou inovações). Algumas inovações são capazes de destruir todo um setor produtivo e criar um novo outrora inexistente, como, por exemplo, o setor de microcomputadores que aniquilou o das máquinas de datilografar. É o que Joseph Schumpeter denominou de destruição criativa.

Agora que coloquei a importância da competitividade e do empreendedorismo em uma sociedade é possível discutir alguns dados dos órgãos internacionais que tratam do tema. Temos o Global Entrepreneurship Index (GEI) medido pelo The Global Entrepreneurship and Development Institute (GEDI) é um indicador que mensura a saúde do ecossistema empreendedor em 137 países. Considera para tal as atitudes e habilidades empreendedoras em face às infraestruturas sociais e econômicas dos países. O GEDI disponibilizou, no fim de maio, sua versão 2017. O Brasil, conforme metodologia empregada, ocupa a nada meritória 98a posição. Isso traduz a nossa deficiência em gerar um ambiente propício à criação de novos negócios que movem a economia de uma sociedade, isto é, o ecossistema brasileiro para novos empreendimentos é, por assim dizer, hostil para os que desejam montar seus negócios. Para constar, os cinco países mais bem pontuados no critério são Estados Unidos, Suíça, Canadá Suécia e Dinamarca.

Há outros indicadores que dão robustez a nossa insignificância competitiva e empreendedora. O IMD World Competitiviness Center, que mede a competitividade das nações, mostra o Brasil na 55a posição em 63 países pesquisados em competitividade digital, na competitividade em geral, o Brasil é o 61o. Isso mesmo, temos apenas dois países piores que nós em competitividade: Venezuela e Mongólia. Os cinco mais bem pontuados são: Hong Kong, Suíça, Singapura, Estados Unidos e Holanda. Singapura é uma curiosidade a parte. Nada contra aquele país, pelo contrário. Um país quase todo pantanoso, com poucos atrativos geográficos, mas por outro lado vive claramente o livre mercado, e tem educação de primeiríssima qualidade. Apesar de suas 4 línguas maternas, as escola públicas lecionam seus conteúdos todos em inglês. Hoje a competitividade se traduz naquilo que não necessita recursos físicos ou naturais (que não tem), mas de conhecimento: no quesito competitividade digital Singapura é a primeira do mundo, conforme a organização.

Então, a meu ver, esse processo competitivo e empreendedor deve ser apoiado e reforçado por um Estado que deseja favorecer o desenvolvimento econômico, em sendo assim é capaz de gerar riquezas para a sociedade, sem a qual a miséria imperaria... de fato impera em muitos países, todos eles sem favorecimento ao ambiente de negócios. Há também muitos bolsões de pobreza dentro de países como ocorre no Brasil. Mas, e as questões sociais e ambientais? Essa pobreza não deve ser combatida primeiro? O dogma liberalista extremo não não gerou disfunções sociais no passado? Não há disfunções a serem corrigidas hoje? Em nome de uma competição selvagem, não se ampliou a exploração da mão de obra, logo pobreza? Não se criou poderes monopolísticos a determinadas empresas? Empresas não se associaram e tiveram favorecimento do Estado? Não houve degradação ambiental severa? Isso tudo é verdade, tenho convicção. Logo, lidar com os limites do setor produtivo é algo preponderante. Todavia, deve-se lidar com toda a responsabilidade e reconhecimento que a geração de riqueza em uma sociedade é realizada por empreendimentos lucrativos, pois não há nenhum outro setor na sociedade que gere riqueza, somente o produtivo. Por isso, quanto maior o desenvolvimento econômico de uma sociedade, melhores poderão ser as políticas sociais e ambientais, dada a maior a capacidade tributária do Estado.


Resolvi  fazer um exercício simples para obter evidências do que falo. Comparei alguns indicadores de competitividade e empreendedorismo com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e não tive grande surpresa. Os 10 maiores IDHs são representados por países que estão no topo da competitividade (IDM) e com melhores ecossistemas empreendedores (GEI). Por outro lado, dispus os 4 países próximos do Brasil em termos GEI, e todos apontam baixos IDHs. Estou certo que não posso estabelecer conclusões precisas, mas as evidências são fortes de que uma economia pujante reflete nas questões sociais. O que não foi possível encontrar nos dados pesquisados foi Estados com economias fracas e socialmente fortes. Há outros indicadores sociais que reforçam as evidências que exponho. Deixo aqui os nomes para consulta: World Hapiness Report, relatório que mede a felicidade dos países; Legatum Prosperity Index, instituto que mede prosperidade das nações que inclui economia, ambiente de negócios, governança, educação, saúde, segurança, liberdades individuais, capital social e ambiente natural; e o Global Gender Gap Index que mede igualdade de gêneros, medido pelo Fórum Econômico Mundial.

Penso, portanto, que qualquer expressão de que o setor produtivo deve pagar por problemas socioambientais não condiz com a realidade, muito embora a experiência demostra que maucaratismo está presente no ambiente empresarial, proletariado, político, judiciário, entre vários outros. O que devemos, irrefutavelmente, é compreender, politizar e ter ciência de que ninguém tem a verdade, sempre uma parcela dela.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Dia Internacional do Meio Ambiente

Dia 05 de junho. Dia internacional do meio ambiente. Não me restam dúvidas que se trata de um dia de comemorações, ainda que com certa preocupação. São notáveis os avançamos ao longo de nossa breve história quando o tema é meio ambiente. Todavia, vivemos tempos difíceis, não sabemos ao certo quem somos ou o que queremos. Temos lançado mão de princípios filosóficos e ideológicos de forma equivocada e sem a devida reflexão para temas como o que abordo hoje.

Economicamente, o auto-interesse é tido como mecanismo fundamental para o desenvolvimento econômico, fruto de um paradigma conservador-liberal. Ou seja, quanto menos intervenção na economia, melhor é seu resultado, pois maior será a prosperidade de uma nação, como famosa mão invisível de Adam Smith regulando a economia. Refuta-se, a partir deste princípio, o intervencionismo, porque resulta em distorções dos princípios econômicos, e geram resultados nocivos para sociedade. 

A questão ambiental tem tudo a ver com isso, pois ao defrontarmos com uma recente polarização política e econômica, dificulta-se o entendimento sobre o problema ambiental. Sendo algo que foge da lógica de livre mercado, é comum caracterizar a questão ambiental como mera bandeira da esquerda, ou intervencionista. Ao bem da verdade, isso pode não ser totalmente equivocado, tenho que admitir. Há quem usa o ambientalismo como demostração da soberba do "capitalistas opressores" destruidores do meio ambiente, em certos discursos. Por outro lado, há setores empresariais, e também da esquerda que lidam seriamente com o tema e devem ser reverenciados.

Em um passado recente problemas ambientais foram tão sérios que se defendeu que apenas sem crescimento econômico sobreviveríamos, o famoso Clube de Roma. Certamente a história não era bem assim, mas se demandou acordos, reflexões e ações mundiais urgentes para que a catástrofe não se consolidasse. As chuvas ácidas, os rios poluídos, o desmatamento e a terra contaminada foram realidade bem presente que entre as décadas de 1960 a 1980, as quais pareciam irreversíveis. Mas, assim como a crise alimentar prevista por Thomas Malthus entre nos séculos XVII e XVIII, o desenvolvimento tecnológico foi protagonista das mudanças necessárias para que o caos ambiental não ocorresse. 

Todavia, não posso creditar todas as fichas no desenvolvimento tecnológico como se fosse algo por si. Na verdade, houve uma mudança de crenças compartilhadas dentro da sociedade que nos compeliu a buscar soluções e determinaram desenvolvimento tecnológico direcionado à produção de alimentos, e à despoluição, citando os casos aos quais me referi anteriormente. Chamarei isso de paradigma tecnológico-institucional (não é bem uma novidade). O paradigma tecnológico-institucional determina a trajetória tecnológica de uma sociedade que está fundamentada nas crenças, valores, regras formais e informais institucionalizadas, as quais elegem suas prioridades inovativas. Assim, a trajetória tecnológica está imbricada à cultura da sociedade, a qual é elemento central do progresso que se deseja para um povo.

No caso dos problemas ambientais dos anos 1960 a 1980, os danos socioambientais gerados pela da atividade econômica foram facilmente mensuráveis, o que torna igualmente fácil determinar os novos paradigmas institucionais-tecnológicos, pois caso não se mudasse, haveria chuva ácida, ou não haveria água potável até hoje. Mas quando não se tem certeza quanto aos resultados da atividade econômica como aquecimento global? Quem e em qual extensão são os setores responsáveis pelos problemas ambientais sistêmicos? Quanto se deve produzir, ou precaver? Informações sobre os efeitos sistêmicos ambientais da produção e consumo de bens e serviços são fartos mas ainda dúbios em termos de prescrição de ações, e diante desta incerteza, surge a necessidade de preenchimento racional por meio da ideologia. Aqui me aproprio da definição de ideologia de Douglass North como racionalidade subjetiva. Ou seja, ideologia é o preenchimento de hipóteses acerca da realidade que não pode ser comprovada facilmente, mas é crida por um encadeamento de ideias racionalizadas no sentido filosófico. Aqui está a questão central. A ideologização do meio ambiente. 

Nesta incerteza, produzimos totalmente ou parcialmente diversas ideologias sobre o meio ambiente. Me refiro agora àqueles adeptos da livre iniciativa que desejam olvidar as questões ambientais. O meio ambiente não é apenas uma preocupação mas também fonte de vantagem competitiva. Vejam o catedrático professor de estratégia empresarial Michael Porter. Ele, em seu trabalho "Green and Competitive: Ending the Stalemate" na Harvard Business Reviewdefende que inovações nas empresas suplantam os trade-offs entre ambientalismo e lucratividade, isto é, inovações podem dar sentido comum ao lucro bem como proteção ambiental. Exemplo? O autor cita a produção de flores na Holanda onde as estufas reduziram problemas ambientais, reduziram consumo de recursos e aumentou significativamente a produtividade! Entretanto, o autor salienta a importância da regulação do Estado como fomentador de inovações, e faz uma comparação entre as boas regulações, como escandinavas, que favorece inovações amigáveis ao meio ambiente, das americanas, muito mais punitivas. Vejam que a proposta do autor envolve tudo que uma economia liberal conservadora não prescreve, um restrição ambiental causada pela legislação de fundamento não auto-interessado e intervenção estatal.

Soluções ambientais e lucrativas estão sendo seriamente enfrentadas nas organizações com fins lucrativos. Entretanto, quando uma nação caminha no sentido contrário ao fomento às inovações, por meio de proteção, como vemos recentemente nos Estados Unidos da América, parece, a princípio, que ele se está causando um bem para comunidade americana em detrimento do mundo. Todavia, me arrisco a dizer que o que ocorre é exatamente o contrário. Está-se criando falta de competitividade da indústria interna americana frente àquelas que vão inovar em direção à sustentabilidade, mundo afora.

Neste dia internacional do meio ambiente, eu saúdo aqueles que veem a inovação como processo inexorável para sustentabilidade, assim como eu vejo.