segunda-feira, 5 de junho de 2017

Dia Internacional do Meio Ambiente

Dia 05 de junho. Dia internacional do meio ambiente. Não me restam dúvidas que se trata de um dia de comemorações, ainda que com certa preocupação. São notáveis os avançamos ao longo de nossa breve história quando o tema é meio ambiente. Todavia, vivemos tempos difíceis, não sabemos ao certo quem somos ou o que queremos. Temos lançado mão de princípios filosóficos e ideológicos de forma equivocada e sem a devida reflexão para temas como o que abordo hoje.

Economicamente, o auto-interesse é tido como mecanismo fundamental para o desenvolvimento econômico, fruto de um paradigma conservador-liberal. Ou seja, quanto menos intervenção na economia, melhor é seu resultado, pois maior será a prosperidade de uma nação, como famosa mão invisível de Adam Smith regulando a economia. Refuta-se, a partir deste princípio, o intervencionismo, porque resulta em distorções dos princípios econômicos, e geram resultados nocivos para sociedade. 

A questão ambiental tem tudo a ver com isso, pois ao defrontarmos com uma recente polarização política e econômica, dificulta-se o entendimento sobre o problema ambiental. Sendo algo que foge da lógica de livre mercado, é comum caracterizar a questão ambiental como mera bandeira da esquerda, ou intervencionista. Ao bem da verdade, isso pode não ser totalmente equivocado, tenho que admitir. Há quem usa o ambientalismo como demostração da soberba do "capitalistas opressores" destruidores do meio ambiente, em certos discursos. Por outro lado, há setores empresariais, e também da esquerda que lidam seriamente com o tema e devem ser reverenciados.

Em um passado recente problemas ambientais foram tão sérios que se defendeu que apenas sem crescimento econômico sobreviveríamos, o famoso Clube de Roma. Certamente a história não era bem assim, mas se demandou acordos, reflexões e ações mundiais urgentes para que a catástrofe não se consolidasse. As chuvas ácidas, os rios poluídos, o desmatamento e a terra contaminada foram realidade bem presente que entre as décadas de 1960 a 1980, as quais pareciam irreversíveis. Mas, assim como a crise alimentar prevista por Thomas Malthus entre nos séculos XVII e XVIII, o desenvolvimento tecnológico foi protagonista das mudanças necessárias para que o caos ambiental não ocorresse. 

Todavia, não posso creditar todas as fichas no desenvolvimento tecnológico como se fosse algo por si. Na verdade, houve uma mudança de crenças compartilhadas dentro da sociedade que nos compeliu a buscar soluções e determinaram desenvolvimento tecnológico direcionado à produção de alimentos, e à despoluição, citando os casos aos quais me referi anteriormente. Chamarei isso de paradigma tecnológico-institucional (não é bem uma novidade). O paradigma tecnológico-institucional determina a trajetória tecnológica de uma sociedade que está fundamentada nas crenças, valores, regras formais e informais institucionalizadas, as quais elegem suas prioridades inovativas. Assim, a trajetória tecnológica está imbricada à cultura da sociedade, a qual é elemento central do progresso que se deseja para um povo.

No caso dos problemas ambientais dos anos 1960 a 1980, os danos socioambientais gerados pela da atividade econômica foram facilmente mensuráveis, o que torna igualmente fácil determinar os novos paradigmas institucionais-tecnológicos, pois caso não se mudasse, haveria chuva ácida, ou não haveria água potável até hoje. Mas quando não se tem certeza quanto aos resultados da atividade econômica como aquecimento global? Quem e em qual extensão são os setores responsáveis pelos problemas ambientais sistêmicos? Quanto se deve produzir, ou precaver? Informações sobre os efeitos sistêmicos ambientais da produção e consumo de bens e serviços são fartos mas ainda dúbios em termos de prescrição de ações, e diante desta incerteza, surge a necessidade de preenchimento racional por meio da ideologia. Aqui me aproprio da definição de ideologia de Douglass North como racionalidade subjetiva. Ou seja, ideologia é o preenchimento de hipóteses acerca da realidade que não pode ser comprovada facilmente, mas é crida por um encadeamento de ideias racionalizadas no sentido filosófico. Aqui está a questão central. A ideologização do meio ambiente. 

Nesta incerteza, produzimos totalmente ou parcialmente diversas ideologias sobre o meio ambiente. Me refiro agora àqueles adeptos da livre iniciativa que desejam olvidar as questões ambientais. O meio ambiente não é apenas uma preocupação mas também fonte de vantagem competitiva. Vejam o catedrático professor de estratégia empresarial Michael Porter. Ele, em seu trabalho "Green and Competitive: Ending the Stalemate" na Harvard Business Reviewdefende que inovações nas empresas suplantam os trade-offs entre ambientalismo e lucratividade, isto é, inovações podem dar sentido comum ao lucro bem como proteção ambiental. Exemplo? O autor cita a produção de flores na Holanda onde as estufas reduziram problemas ambientais, reduziram consumo de recursos e aumentou significativamente a produtividade! Entretanto, o autor salienta a importância da regulação do Estado como fomentador de inovações, e faz uma comparação entre as boas regulações, como escandinavas, que favorece inovações amigáveis ao meio ambiente, das americanas, muito mais punitivas. Vejam que a proposta do autor envolve tudo que uma economia liberal conservadora não prescreve, um restrição ambiental causada pela legislação de fundamento não auto-interessado e intervenção estatal.

Soluções ambientais e lucrativas estão sendo seriamente enfrentadas nas organizações com fins lucrativos. Entretanto, quando uma nação caminha no sentido contrário ao fomento às inovações, por meio de proteção, como vemos recentemente nos Estados Unidos da América, parece, a princípio, que ele se está causando um bem para comunidade americana em detrimento do mundo. Todavia, me arrisco a dizer que o que ocorre é exatamente o contrário. Está-se criando falta de competitividade da indústria interna americana frente àquelas que vão inovar em direção à sustentabilidade, mundo afora.

Neste dia internacional do meio ambiente, eu saúdo aqueles que veem a inovação como processo inexorável para sustentabilidade, assim como eu vejo.

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