segunda-feira, 12 de junho de 2017

Empreendedorismo, competitividade e justiça social

Esse texto é para todos aqueles que querem discutir a importância do sistema econômico atual para o desenvolvimento social, bem como ambiental. Em geral, os estudantes de negócios, como os de Administração, Ciências Contábeis e Economia deveriam compreender o que vou dizer sem problemas, pois é relativamente introdutório. Mesmo assim, ficaria lisonjeado em saber que leram. Darei, no entanto, uma pegada de entendimento político ao texto. Logo, parte dele destina-se àqueles que não focam seus estudos acadêmicos e profissionais em ambientes de negócios, e tentarei demostrar a necessidade de valorização do ambiente empreendedor e competitivo de uma nação.

Minha  inspiração foi a professora Dra. Rose Mary Almeida Lopes, a qual tive o prazer de conhecer. Ela é presidente da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (ANEGEPE), que trouxe informações sobre empreendedorismo, inovação e competitividade mundo afora. Os dados apresentados pela professora, no entanto, são alarmantes. Nossos indicadores de competitividade e de empreendedorismo, que move uma sociedade em direção à prosperidade são, infelizmente, pífios.

A pergunta que deveria ser trivial, todavia, vejo ainda necessário ser respondida é: Por que tanta importância atribuída à competitividade e ao empreendedorismo? É uma pergunta fundamental que, ao que parece, o Brasil está longe de compreender. Então vejamos... Na sociedade capitalista (que somos, gostem ou não), a produção, distribuição e consumo de bens e serviços são governadas pelas necessidades e desejos dos indivíduos, cujos valores são quantificados monetariamente e teorias econômicas explicam o fenômeno. Um pressuposto fundamental, entretanto, é filosófico: indivíduos têm a liberdade de decidir seu trabalho, profissão, fé, o que consumir, entre outros. Isto é, liberdade é elemento primordial na sociedade capitalista, pelo menos na teoria.

Entre as liberdades de que falo, uma é importante nas sociedade capitalistas, a de empreender seu próprio negócio. Aqueles que têm desejo de se lançar ao mercado com suas ideias, têm a liberdade de constituir seu empreendimento, assumem seus riscos e buscam meios de ser prósperos. Diferente daqueles que, por exemplo, desejam ser funcionários públicos. Esses indivíduos - propensos a assumir riscos em troca de maiores retornos - são aqueles que chamamos empreendedores. Caso consigam atingir seus objetivos, obterão lucros, prosperarão, enriquecerão pelo acúmulo de capital, mas também gerarão emprego e renda para aqueles outros que desejarão ser seus empregados, os que optam pela estabilidade produzida pela legislação trabalhista, como este professor que vos fala. Ninguém é melhor ou pior, são escolhas em um mundo livre, claro, dentro de restrições sociais que não devem ser olvidadas. Mas o fato é que empreendedores são capazes de trazer novos conhecimentos ao mercado, ou inovar em relação àquilo que está estabelecido. São capazes de realizar mudanças e corrigir vícios.

A competitividade, por sua vez, é entendida como as condições nas quais empresas concorrentes se enfrentam para ter a preferência dos clientes. Condições altamente competitivas exigem das empresas eficiência em seus processos produtivos ou em suas práticas gerenciais, por um lado; por outro, deve-se observar com atenção os sinais do mercado para se ajustar às demandas presentes e futuras. Setores altamente competitivos podem ser entendidos como aqueles cujas condições ambientais são turbulentas e a sobrevivência demanda novas soluções (ou inovações). Algumas inovações são capazes de destruir todo um setor produtivo e criar um novo outrora inexistente, como, por exemplo, o setor de microcomputadores que aniquilou o das máquinas de datilografar. É o que Joseph Schumpeter denominou de destruição criativa.

Agora que coloquei a importância da competitividade e do empreendedorismo em uma sociedade é possível discutir alguns dados dos órgãos internacionais que tratam do tema. Temos o Global Entrepreneurship Index (GEI) medido pelo The Global Entrepreneurship and Development Institute (GEDI) é um indicador que mensura a saúde do ecossistema empreendedor em 137 países. Considera para tal as atitudes e habilidades empreendedoras em face às infraestruturas sociais e econômicas dos países. O GEDI disponibilizou, no fim de maio, sua versão 2017. O Brasil, conforme metodologia empregada, ocupa a nada meritória 98a posição. Isso traduz a nossa deficiência em gerar um ambiente propício à criação de novos negócios que movem a economia de uma sociedade, isto é, o ecossistema brasileiro para novos empreendimentos é, por assim dizer, hostil para os que desejam montar seus negócios. Para constar, os cinco países mais bem pontuados no critério são Estados Unidos, Suíça, Canadá Suécia e Dinamarca.

Há outros indicadores que dão robustez a nossa insignificância competitiva e empreendedora. O IMD World Competitiviness Center, que mede a competitividade das nações, mostra o Brasil na 55a posição em 63 países pesquisados em competitividade digital, na competitividade em geral, o Brasil é o 61o. Isso mesmo, temos apenas dois países piores que nós em competitividade: Venezuela e Mongólia. Os cinco mais bem pontuados são: Hong Kong, Suíça, Singapura, Estados Unidos e Holanda. Singapura é uma curiosidade a parte. Nada contra aquele país, pelo contrário. Um país quase todo pantanoso, com poucos atrativos geográficos, mas por outro lado vive claramente o livre mercado, e tem educação de primeiríssima qualidade. Apesar de suas 4 línguas maternas, as escola públicas lecionam seus conteúdos todos em inglês. Hoje a competitividade se traduz naquilo que não necessita recursos físicos ou naturais (que não tem), mas de conhecimento: no quesito competitividade digital Singapura é a primeira do mundo, conforme a organização.

Então, a meu ver, esse processo competitivo e empreendedor deve ser apoiado e reforçado por um Estado que deseja favorecer o desenvolvimento econômico, em sendo assim é capaz de gerar riquezas para a sociedade, sem a qual a miséria imperaria... de fato impera em muitos países, todos eles sem favorecimento ao ambiente de negócios. Há também muitos bolsões de pobreza dentro de países como ocorre no Brasil. Mas, e as questões sociais e ambientais? Essa pobreza não deve ser combatida primeiro? O dogma liberalista extremo não não gerou disfunções sociais no passado? Não há disfunções a serem corrigidas hoje? Em nome de uma competição selvagem, não se ampliou a exploração da mão de obra, logo pobreza? Não se criou poderes monopolísticos a determinadas empresas? Empresas não se associaram e tiveram favorecimento do Estado? Não houve degradação ambiental severa? Isso tudo é verdade, tenho convicção. Logo, lidar com os limites do setor produtivo é algo preponderante. Todavia, deve-se lidar com toda a responsabilidade e reconhecimento que a geração de riqueza em uma sociedade é realizada por empreendimentos lucrativos, pois não há nenhum outro setor na sociedade que gere riqueza, somente o produtivo. Por isso, quanto maior o desenvolvimento econômico de uma sociedade, melhores poderão ser as políticas sociais e ambientais, dada a maior a capacidade tributária do Estado.


Resolvi  fazer um exercício simples para obter evidências do que falo. Comparei alguns indicadores de competitividade e empreendedorismo com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e não tive grande surpresa. Os 10 maiores IDHs são representados por países que estão no topo da competitividade (IDM) e com melhores ecossistemas empreendedores (GEI). Por outro lado, dispus os 4 países próximos do Brasil em termos GEI, e todos apontam baixos IDHs. Estou certo que não posso estabelecer conclusões precisas, mas as evidências são fortes de que uma economia pujante reflete nas questões sociais. O que não foi possível encontrar nos dados pesquisados foi Estados com economias fracas e socialmente fortes. Há outros indicadores sociais que reforçam as evidências que exponho. Deixo aqui os nomes para consulta: World Hapiness Report, relatório que mede a felicidade dos países; Legatum Prosperity Index, instituto que mede prosperidade das nações que inclui economia, ambiente de negócios, governança, educação, saúde, segurança, liberdades individuais, capital social e ambiente natural; e o Global Gender Gap Index que mede igualdade de gêneros, medido pelo Fórum Econômico Mundial.

Penso, portanto, que qualquer expressão de que o setor produtivo deve pagar por problemas socioambientais não condiz com a realidade, muito embora a experiência demostra que maucaratismo está presente no ambiente empresarial, proletariado, político, judiciário, entre vários outros. O que devemos, irrefutavelmente, é compreender, politizar e ter ciência de que ninguém tem a verdade, sempre uma parcela dela.

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